quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Daquilo que passa



Era uma voz, que eu já tão sem crenças fui dando um jeito de torná-la fraca, quase inexpressiva. Um dia me veio como um arrombo, daqueles impossíveis de não serem notados, e no entusiasmo de quem finalmente é ouvido, ela me dizia simplesmente “você pensa demais, se esquece contudo que para sentir não depende do seu pensar… você não se permite sentir, porque enquanto sente, tenta interpretar o que está sentindo, e, assim, permite que o que sente se afogue, por não ter força”… A mesma voz completava que não precisamos seguir rastros, se todos temos condições de criar passos…
Naquela tarde resolvi pegar as naus que restavam, e dei abrigo a todas as sensações. Nem a mais grave se indispôs em aparecer. Mas todas passam. E essa era a única certeza adquirida.
Daquele dia em diante eu resolvi ser  alguém que dá abrigo apenas às passagens.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

trilha sonora para postagem anterior>>

Rever





A partir de Satolep
Se Vitor Ramil observa lindamente que “o largo em frente à estação abria-se generosamente à espera de um abraço” (p. 32), também eu posso ter a alma das coisas sem precisar sequer tocá-las para senti-las, elas se apresentam para mim antes como cor e como cheiro, ainda mais nestas luzes tranbordantes de primavera, que tanto dão aura a todos os seres. Posso sentir o abraço deste largo, mas também das sinuosidades dessa cidade que me acolhe.
Também ele (e eu, junto dele) complementa (mos) que “se restar alguma sensação que descreva o período dos meus trinta anos, será esta: estar em mim e em meu entorno”. Se eu tinha confiança e hoje tenho medo, que o medo que me leve, então, de mãos com a confiança, diante de tudo, mesmo diante do medo de às vezes sentir não ter força para prosseguir.
Que a cidade me ajude a voltar, como ajudou a este persongem, este todos-nós que expressa a mais humana das hipóteses. Sobreviver.
Compor. Recompor. Reorganizar. Dar nova forma. 
Renascer. Voltar.

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Linda também a obra de Betina Frichmann (a primeira imagem que utilizei e as que seguem), que esteve em uma exposição que não lembro o nome, mas que vi há algum tempo no Gasômetro. Obra esta que recompus a partir de escolhas-fragmentos que fiz. De uma força…










sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma palavrinha sobre os últimos acontecimentos: - Voa...


Como uma nuvem que se vai
Te vejo, mais sei aqui você não está
Tua forma muda com o vento que me faz imaginar
Quem sabe se desenhará
Num céu adentro refletido em meu olhar
Variações atmosféricas que irão te iluminar
Um dia se condensará e como chuva cairá
Então não vou me proteger mais

Enquanto isso eu estarei
Voando pelos céus que me revelarão
Lugares que nunca pensei que chegaria conhecer
Assim me deixarei levar
Pelas correntes que me façam navegar
E muitas nuvens passarão
Mais sei que vou te reencontrar

Um dia se condensará e como chuva cairá
Então não vou me proteger mais

Me basta só te ver passar
Flutuando de algum lugar



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Letra/Música de Paulinho Moska e Pedro Aznar. Quem quiser ouvir esta lindeza:


Imagem ("La solitude est condition necessaire à la liberté") de um video portrait feito por Robert Wilson, que está, junto com outras obras, na exposição em cartaz no Santander Cultural, aqui em Porto Alegre. Imperdível.