Era uma voz, que eu já tão sem crenças fui dando um jeito de torná-la fraca, quase inexpressiva. Um dia me veio como um arrombo, daqueles impossíveis de não serem notados, e no entusiasmo de quem finalmente é ouvido, ela me dizia simplesmente “você pensa demais, se esquece contudo que para sentir não depende do seu pensar… você não se permite sentir, porque enquanto sente, tenta interpretar o que está sentindo, e, assim, permite que o que sente se afogue, por não ter força”… A mesma voz completava que não precisamos seguir rastros, se todos temos condições de criar passos…
Naquela tarde resolvi pegar as naus que restavam, e dei abrigo a todas as sensações. Nem a mais grave se indispôs em aparecer. Mas todas passam. E essa era a única certeza adquirida.
Daquele dia em diante eu resolvi ser alguém que dá abrigo apenas às passagens.