segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Todo o vir-a-ser queria, comigo, aprender a falar...







Cenas de um livro fantástico que encontrei totalmente por acaso, primeiramente como imagem. Desenhos de Maximilien Le Roy e roteiro/adaptação de Michel Onfray, aquele filósofo francês delicioso de ler. Neste blog há um texto igualmente delicioso, falando sobre essa obra. Fica a dica para os amantes de hq's, e de reflexões que nos movimentem...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Gracias.

Hora de rever. hora de se rever. hora de repensar. hora de atualizar. hora de desprender. hora de desapegar.  hora de reerguer. hora de caminhar. hora de se assumir. hora de mergulhar. hora de agradecer. Gracias a la vida, pelos olhos, pela capacidade de sorrir, pela capacidade de levantar e de sempre aprender.


domingo, 28 de novembro de 2010

Um passeio socrático pelas páginas do consumo.


"Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China . Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'


Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei.. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'


Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: ' Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?


Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...


A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.


Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas....


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...


Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!" "


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*Quando recebi esse texto, não havia a autoria. Apesar disso, que ele ressoe no que propõe de reflexoões... Isso importa. Achei interessante compartilhar.

**Ainda em tempo, algumas atualizações. Disseram-me que esse texto era do Frei Betto, alguém confirma? Muito pertinente.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sobre pássaros musicais.

"A lição que fica pra mim é que é possível ver poesia em qualquer lugar, depende só do jeito que a gente olha".




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fotografia sem câmera II

D'aquilo que não se pode t(s)er   16.11.10

Um menino morador de rua - roupa suja, rasgada, pés descalços - segura as mãos nas grades de uma janela, projetando o corpo para melhor observar o que acontece no interior. Neste perto dos tão longe, várias crianças dançam e tocam pequenos instrumentos percursivos, sob os comandos de um professor atento. A escolhinha está cheia de alegrias.



domingo, 14 de novembro de 2010

Da série "fotografia sem câmera"

Cenas do Brique da Redenção   14.11.10

Um bebê indígena dentro de um carrinho de supermercado (cercadinho nômade) é convidado a se refrescar por um homem (que pode ser seu pai), enquanto este lhe oferece como mamadeira uma garrafa de dois litros de Coca Cola - contendo Coca Cola. A sede manda lembranças.



Não preciso ir muito além dessa estrada...

Algumas palavras.

...

"- Me chamo Miserinha. É nome que me foi dado, mas não de nascença. Como esse lenço que recebi. 
De novo, a sua atenção pousa no Tio. Seu olhar parece mais um modo de escutar. Que seria que ela retirava do meu parente? Talvez sua definhada postura. Sabe-se: a dor pede pudor. Na nossa terra, o sofrimento é uma nudez - não se mostra aos públicos. Abstinêncio se comporta em sua melancolia. A velha coloca a mão sobre a testa, cortinando os olhos, atenta aos tintins dos gestos de Abstinêncio.
- Esse homem vai carregado de sofrimento.
- Como sabe?
- Não vê que só o pé esquerdo é que pisa com vontade? Aquilo é peso no coração.
Explica-me que sabe ler a vida de um homem pelo modo como ele pisa no chão. Tudo está escrito em seus passos, os caminhos por onde ele andou.
- A terra tem suas páginas: os caminhos. Está me entendendo?
- Mais ou menos.
- Você lê o livro, eu leio o chão".

...


Um trecho de "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", daquele que faz as palavras dançarem, de tanta cor e movimento que as faz gerar - Mia Couto. Ele, que de Moçambique nos relembra a necessidade de renascer.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sonhei que sonhava uma canção


Y soñando que un sueño era mi traje
comencé la canción, la poesía,
y aquel sueño aprendió todo el mundo de mí
e iba yo sin saber que él sabía, que él sabía.
Y así fui, por la tierra, por los mares,
por los cielos, las noches y los días,
los amores, los templos y los bares,
así fui con mi sueño que sabía.
Y aquel sueño que yo soñaba puesto
comenzó a soñar que él me soñaba
y un buen día aprendí todo el mundo de él.
y ahora somos pareja en la sala
e inventamos un vals que bailamos para soñar.
Silvio Rodriguez

Movimento ao meu redor.  Eram passantes, eram passados, eram presentes, eram amores. Havia ação neste exterior, muitos rostos conhecidos, outros nem tanto, mas todos irremediavelmente – ali.
A despeito dos meus olhos que a tudo chegavam, ao longe, o olhar não era nunca retribuído. Eu não era vista, e a atuação dava a entender que, realmente, eu não estava ali. Mas sim, eu me sentia, eu sentia, eu estava.
Estava fechada, porém, em um lugar que não havia muros – e nenhum material atuava em separar interior-exterior. Um lugar por onde todas as imagens exteriores entravam.
Estava exposta, porém invisível. Também queria interagir, queria atuar: também queria viver, como todos. Mas não podia. Eu não estava desperta, e não havia ninguém que pudesse me tirar daquele estado, a não ser eu mesma.
Um encontro.
Um encontro que demorava a acontecer.
E aquele eu quietinho, meio recolhido, ficava numa mistura estranha de ansiedade e espera, querendo poder sentir a força do próprio passo, os ritmos do próprio andar, os traçados dos caminhos produzidos pelo corpo, com calma e persistência, tal como o vôo de uma gaivota que atravessa o ar e a sua dureza, sutilmente. Mas o tempo. Ah… 
O tempo estava suspenso. Era aquele que não passa, ou se demora, ou nunca chega.
Até hoje não consegui saber ao certo se com esse corte fiquei esperando até ser acordada, finalmente, ou se simplesmente me rebelei. Se o encontro se deu? Acredito que em vários níveis, e pode não ter sido frente a frente, como um espelho, afinal, não só o que se reflete idêntico devolve o olhar.
Prefiro poetizar que sim, que tenha resolvido deixar de esperar, afinal, gosto mais de pensar a paciência de mãos dadas com tudo aquilo que é vivo. E também tem me vindo como carícia a idéia de que a redoma, agora rompida, tenha cedido lugar a pernas, passos, danças, caminhos e vôos mais libertos...


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Daquilo que passa



Era uma voz, que eu já tão sem crenças fui dando um jeito de torná-la fraca, quase inexpressiva. Um dia me veio como um arrombo, daqueles impossíveis de não serem notados, e no entusiasmo de quem finalmente é ouvido, ela me dizia simplesmente “você pensa demais, se esquece contudo que para sentir não depende do seu pensar… você não se permite sentir, porque enquanto sente, tenta interpretar o que está sentindo, e, assim, permite que o que sente se afogue, por não ter força”… A mesma voz completava que não precisamos seguir rastros, se todos temos condições de criar passos…
Naquela tarde resolvi pegar as naus que restavam, e dei abrigo a todas as sensações. Nem a mais grave se indispôs em aparecer. Mas todas passam. E essa era a única certeza adquirida.
Daquele dia em diante eu resolvi ser  alguém que dá abrigo apenas às passagens.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

trilha sonora para postagem anterior>>

Rever





A partir de Satolep
Se Vitor Ramil observa lindamente que “o largo em frente à estação abria-se generosamente à espera de um abraço” (p. 32), também eu posso ter a alma das coisas sem precisar sequer tocá-las para senti-las, elas se apresentam para mim antes como cor e como cheiro, ainda mais nestas luzes tranbordantes de primavera, que tanto dão aura a todos os seres. Posso sentir o abraço deste largo, mas também das sinuosidades dessa cidade que me acolhe.
Também ele (e eu, junto dele) complementa (mos) que “se restar alguma sensação que descreva o período dos meus trinta anos, será esta: estar em mim e em meu entorno”. Se eu tinha confiança e hoje tenho medo, que o medo que me leve, então, de mãos com a confiança, diante de tudo, mesmo diante do medo de às vezes sentir não ter força para prosseguir.
Que a cidade me ajude a voltar, como ajudou a este persongem, este todos-nós que expressa a mais humana das hipóteses. Sobreviver.
Compor. Recompor. Reorganizar. Dar nova forma. 
Renascer. Voltar.

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Linda também a obra de Betina Frichmann (a primeira imagem que utilizei e as que seguem), que esteve em uma exposição que não lembro o nome, mas que vi há algum tempo no Gasômetro. Obra esta que recompus a partir de escolhas-fragmentos que fiz. De uma força…










sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma palavrinha sobre os últimos acontecimentos: - Voa...


Como uma nuvem que se vai
Te vejo, mais sei aqui você não está
Tua forma muda com o vento que me faz imaginar
Quem sabe se desenhará
Num céu adentro refletido em meu olhar
Variações atmosféricas que irão te iluminar
Um dia se condensará e como chuva cairá
Então não vou me proteger mais

Enquanto isso eu estarei
Voando pelos céus que me revelarão
Lugares que nunca pensei que chegaria conhecer
Assim me deixarei levar
Pelas correntes que me façam navegar
E muitas nuvens passarão
Mais sei que vou te reencontrar

Um dia se condensará e como chuva cairá
Então não vou me proteger mais

Me basta só te ver passar
Flutuando de algum lugar



________
Letra/Música de Paulinho Moska e Pedro Aznar. Quem quiser ouvir esta lindeza:


Imagem ("La solitude est condition necessaire à la liberté") de um video portrait feito por Robert Wilson, que está, junto com outras obras, na exposição em cartaz no Santander Cultural, aqui em Porto Alegre. Imperdível.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Compartilhar quase nadas.

"Quase Nada": Oferenda das mais belas que recebi nos últimos (longos) dias...
Traz leveza, sutileza, mas também muita intensidade de reflexão...
Me dei de presente esta seleção que compartilho com vocês.
(clique na imagem para visualizar melhor)


 E, para mim, e também para o momento, as mais belas...




Para quem quiser viajar mais pelo belíssimo trabalho dos ilustradores Moon/Ba (esta tirinha sai aos sábados na Folha de São Paulo), acessem:
http://www.flickr.com/photos/10paezinhos/sets/72157606185530624/with/4942172970/


Um grande beijo ao amigo-irmão-gêmeo Bruninho por tamanho carinho.

...

sábado, 4 de setembro de 2010

Eclipse*... ou tudo que a vida comporta...

All that you touch
All that you see
All that you taste
All you feel
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
Beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
everyone you meet
All that you slight
Everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All that's to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.

*Nos embalos Floydianos... (adiós Freud)

o argonauta das sensações verdadeiras.

...



"Pesa-me que a razão me compila a dizer estas nenhumas palavras ante a obra do meu Mestre, de não poder escrever, de útil ou de necessário, com a cabeça, mais que disse, com o coração, na Ode [XIV] do Livro I meu, com o qual choro o homem que foi para mim, como virá a ser para mais que muitos, o revelador da Realidade, ou, como ele mesmo disse, "o Argonauta das sensações verdadeiras"- o grande Libertador, que nos restituiu, cantando, ao nada luminoso que somos; que nos arrancou à morte e à vida, deixando-nos entre as simples coisas, que nada conhecem, em seu decurso, de viver nem de morrer; que nos livrou da esperança e da desesperança, para que não nos consolemos sem razão nem nos entristeçamos sem causa". 

(Prefácio de Ricardo Reis para a obra de Alberto Caeiro)


Sobre a dor, palavra... Tem horas que o silêncio não é - definitivamente - nenhum consolo.
Obrigada aos amigos-afetos-coração-palavra. 
Com todo amor que me coube, me cabe, me caberá.
Transbordante.


*mergulhos oferendados pelo fotógrafo Aaron Farley.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010


que o vento limpe a dor...