quarta-feira, 16 de junho de 2010

acorda, amor

Foto: Fernanda Prado

Diante das emoções dos últimos dias, seguem as coisas se apresentando pra mim, e eu me reapresentando para a vida espalhando essas coisas que me tomam conta... Eis aqui um reencontro com a obra de alguém chamado Fernanda Prado, que já pelas visitas ao seu flickr me instiga com o seu projeto "Acorda, amor", capturando uma foto a cada amanhecer, como primeira atividade do dia. Cotidiano que vai apresentando delicadezas perdidas, daquelas que por vezes já se tornaram tão habituais que às vezes as naturalizamos... e já nem percebemos. É o jeito de colocar o bule na mesa. É o jeito de já nem ter bule na mesa. É a cor da parede ainda não pintada, e os quadros que a gente vai  encontrando em "briks" da Rua José do Patrocínio...

Foto: Fernanda Prado.


Agora, com vocês, a tão esperada *receitinha para perder e encontrar um cd*:

* Tenha a irreversível mania de sempre que for escutar um cd, colocar aquele que você escutou antes, e que, por isso,  está dentro do aparelho de som (dvd, microsystem, discman, a tecnologia que você optar), no interior da caixinha do cd que você quer ouvir. Repita essa parte ad infinitum;

* Quando você quiser ouvir o cd do belle and sebastian tigermilk, e, abrindo a caixinha azul, você encontrar um cd do tim maia racional... Então não há jeito, é chegado o momento de você exclamar "-Ohhhh", pois agora você deve fazer o movimento inverso: ir colocando cada cd novamente nas suas respectivas caixas, até encontrar o cd que você quer escutar. É possível que, no meio desse processo, você já nem queira ouvir mais belle and sebastian, porque achou aquele rolling stones perdido (mas que não teve ânimo de procurar), ou é bem provável, também, que você encontre o cd esperado como o último da fila. Ou o primeiro, depende de onde você quer olhar.

* Pronto! É só colocar na "vitrola" e começar tuuuudo outra vez!!

Observações necessárias I: Não tente fazer isso com o cd chamado "Tambong", de Vitor Ramil. Isso, aquele verde, que ele canta coisas lindas sobre as ilusões de uma casa, e a minha preferida de sempre "só você manda em você", que ele empresta as palavras de Bob Dylan. Esse disco tem um poder imenso, e, mesmo que você tenha sido uma pessoa infalivelmente organizada no seu modo de ouvir suas músicas, é bem provável que um dia você o esqueça em uma caixinha de dvd e, se você ainda fizer parte daqueles - poucos - que hoje em dia ainda locam filme, você irá entregá-lo, junto com o filme, para a pessoa encarregada. Essa pessoa ouvirá Vitor Ramil pelos próximos 7 anos, e seu ato modificará toda uma rede de micro-relações. Uma vida, enfim.


Observações necessárias II: Siga sua vida apesar de mesmo tendo repetido milhares de vezes os processos de perder e encontrar cds, e nunca mais ver Tambong. Também, naquela época você nem ouvia outra coisa, passou meses ouvindo só este disco, não tinha "coooomo" ter pedido (você se repetiu muitas vezes isso). Faça cursos, faça muitas fotos, mude de cidade três vezes, pense em abandonar muita coisa, conheça outras tantas para se apaixonar, volte para a cidade que sempre se sentiu em casa, percebendo que Mônica Salmaso tinha razão, quando cantou, e toda vez que canta "Na volta que o mundo dá". E nessas voltas, já em Porto Alegre, nunca se esqueça de frequentar os briks da Rua José do Patrocínio, e, eventualmente, suba alguns andares de um prédio verde. Pronto. Você encontrou o cd enquanto ele fazia o belíssimo movimento de se espalhar pelo mundo e pelos corações.
Reencontrar o cd perdido por anos trará para você a concretude da modificação de toda uma série de micro-relações. Duas vidas, enfim.


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Esta escrita é dedicada ao querido Felipe.
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3 comentários:

  1. Como eu tenho muito medo que um dia a internet acabe e nós passemos por alguma outra revolução na forma de nos comunicar...

    sabe-se lá, eu acredito até que um dia Dylan aparece na minha porta pedindo um pouco de açucar...

    ... eu resolvi salvar esse texto e guardá-lo, não só n amemória, mas de forma impressa mesmo, assim como os outros. Como escrevi, isso é a prova de que Magnólia não é somente uma ficção (não que eu almeje ser o Tom Cruise em sua batalha contra as vilãs-vaginas)

    Enfim, lindo, lindo para ser lido nesse dia de quarta que perfeitamente se encaixava naquilo que o nosso amigo diz sobre os ares de milonga. Lindo, se a tentativa era um esforço de criar um texto "meio felipe", ficou mais lindo ainda, pois me via nesse texto, ao ler ele tinha uma capacidade visual que bah...

    Beijos com sabor do outono de cores cremosas!

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  2. Morri de rir.
    Lindo. Um texto cheio de Graça.

    Um beijo e um livro repleto de páginas em branco pra ti.
    ;)

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  3. Ain, eu tenho essa irreversível mania. =/

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Voe...